Uma reunião de contos, crônicas e afins. Os nomes dos personagens são fictícios. As notas, nem sempre.
terça-feira, novembro 23, 2010
Explica, Freud
quarta-feira, outubro 20, 2010
Lésbico
O Paulão batia um bolão. Puta
zagueiro. Na infanto-adolescência, havia feito algumas peneiras, aqueles testes
para saber se o moleque joga bem ou não futebol. Passou em uma. Mas após a
aprovação, o olheiro falava que ele iria jogar em um timezinho do interior.
Antes de ele pensar em recusar,
lembrava de toda aquela situação constrangedora antes da aprovação. O olheiro
querendo chupá-lo. Falando que, apesar do seu talento, as coisas ficariam mais
fáceis daquela forma.
Na época ele já via algumas revistas
pornôs e conversava sobre garotas com os amigos. O mais comum era homem com
mulher. E ele achou tudo muito estranho, aquela proposta, e caiu fora.
Depois, até o futebol na televisão
lembrava aquele cara, que usava muletas e iludia a cabeça dos garotos em troca
de uma chupadinha. O olheiro que falava sobre justiça social e preconceito,
pela sua condição física e por ser negro. Sempre destacava a iniciativa em dar
oportunidades para jovens garotos. Mas ele não falava para a mesma sociedade
que era pedófilo. E deu certo.
O olheiro saia em jornais, como o
grande salvador de crianças carentes. Ele era um vencedor, que proporcionava
vitórias para jovens de periferia. A vitória acompanhada de um boquete.
Paulão desistiu do futebol e estudou.
Ainda no segundo grau, conheceu a história da segunda guerra e desejou que
Hitler tivesse matado todos negros, deficientes, pedófilos e gays. Ouvindo rock
com os amigos, na adolescência, descobriu que havia um pessoal de cabeça
raspada que gostava de Hitler e odiava tudo que ele odiava: negros,
deficientes, pedófilos e gays. Resolveu raspar a cabeça e se aproximar daquela
turma. Até voltou a gostar de futebol. Adorava dar porrada na rua. Nessas
saídas regadas a pancadaria, Paulão nunca achou um negro gay e deficiente. Para
ele, seria uma dádiva divina.
Voltou a gostar de futebol pela
violência nas arquibancadas e pelas cervejas com o pessoal no fim de semana.
Até voltou a jogar bola. Foi quando o conheci pela primeira vez. Eficiência na
zaga. Quando seu time sofria gol, era por falha dos outros. Ele mesmo não
deixava passar uma. Zagueiraço. Nossos times jogavam, e depois todos iam tomar
cerveja
em algum mercado 24 horas. Conversávamos sobre futebol, paqueras e música. Ele
adorava falar sobre o quanto gostava de uma buceta rosada e o papo passava a ficar
constrangedor.
O tempo passou e deixei de jogar
futebol às segundas, com a equipe do Paulão. Dois anos depois, encontrei uma
amiga em uma festa. Para minha surpresa, ela beijava outra mulher, que não
parava de olhar para mim. Resolvi espairecer e fumar um cigarro fora da casa.
Quando voltei, a companheira da minha
amiga ainda estava por lá e me percebeu. Não parava de olhar. Me fiz de
desentendido e ignorei. Não adiantou. Minutos depois ela veio. “Eu te conheço
de algum lugar”, falou.
Olhei para a cara dela e, de perto,
também parecia alguém conhecido. Caralho, parecia o Paulão. Era o Paulão. Ele
(a) me contou tudo. Foi enquanto cagava, sentado no vaso, que percebeu que
deveria se transformar em Paulinha. Ficou olhando para o seu pinto e começou a
odiá-lo. O trauma com o olheiro na peneira do futebol. Depois o trauma por
pênis, até pelo seu.
Quando descobriu a buceta, passou a
gostar tanto que, aos poucos, foi crescendo nele a vontade de ter uma.
Quando viu a tal buceta rosa que ele
tanto falava, não teve dúvidas. Pegou um dinheiro da poupança e fez a cirurgia.
Mas por fora ainda continuava homem.
Se sentia insatisfeito. Conseguiu um
empréstimo, colocou silicone, megahair, plástica no rosto, emagreceu. Tornou-se
uma mulher. Conheceu minha amiga e passou a namorá-la.
Não parava de falar que adorava
buceta rosada. Gostava tanto que decidiu ter uma. “Continuo odiando viado. Minha
buceta é só para garotas, he-he-he”, ele dizia.
Era
bizarro ouvir todo aquele discurso. “Quem gosta de homem é viado. Mulher gosta
é de dinheiro ou de buceta. Nunca tive dinheiro mesmo. He-he-he”.
Foi então que eu percebi que esse
negócio de gostar tanto de algo pode ser perigoso, e que alguns traumas duram
uma vida inteira. Foi quando a Paulinha falou, aos berros, com aquela voz de
Paulão: “Eu gosto é de mulher, de buceta, porra. Quando não tem nenhuma por
perto, eu ainda tenho a minha. É melhor que punheta, cara. Mas aí, eu não sou
viado, valeu? Sou lésbico.
domingo, julho 11, 2010
pensando...
quinta-feira, junho 10, 2010
Demônios
Entramos em um quarto e ele foi direto na janela. Fechou a cortina e disse que poderia estar sendo espionado pela Abin ou CIA. Foi quando me pediu ajuda, entregando os papéis, que pareciam formar um livro impresso na internet. Era um manual militar e estava tudo em inglês. Deduzi que ele quisesse ajuda na tradução, mas ainda assim achava aquilo tudo estranho.
Enquanto eu passava o olho nas páginas, meu amigo falava que os Estados Unidos queriam invadir o Brasil e que ele havia conseguido interceptar o plano através daquele relatório. Então ele me pediu que enviasse os papéis para a embaixada da Russia.
Meu Deus, meu amigo está louco. Pensei. Em seguida, senti um certo receio em tentar trazê-lo para o mundo real e concordei em entregar o documento secreto aos camaradas russos.
Hoje o frio adormece minhas mãos e um breve ensaio sobre a loucura e suas facetas surge em minha mente. Pareço entender a embriaguez que dominou meu amigo naquele dia. Hoje, passados alguns anos, distante do lugar onde ocorreu aquele encontro.
Aqui, comprei uma luz de cabeceira para não dormir sozinho nos escuro. Mas hoje, converso com demônios e eles me dizem que posso tudo. Hoje, dormirei com a luz apagada.