Samanta só queria fumar um. Havia terminado o namoro
de dois anos e alguns meses e resolveu se dedicar mais ao trabalho e à vida
pessoal. O pouco tempo que lhe restava era destinado ao projeto de mestrado.
Estava carente, sem sexo desde o término do namoro,
há uns oito meses. Estava estressada. Planejar o futuro a deixava louca. Não
conseguia dormir direito, exceto quando encontrava as amigas. Uma delas, meio
hippie, sempre tinha um baseado. Samanta dava três bolas e ficava legal,
conseguia então uma boa noite de sono.
Naquela sexta-feira, a amiga hippie não estava
presente. Ela tinha ido acampar em uma dessas cidadezinhas qualquer de hippie.
Foi curtir uma vibe.
O grupo de amigas estava em um showzinho de rock, a
banda do irmão da colega hippie. Lá pela quarta música, Salsicha (era mesmo em
homenagem ao personagem do desenho Scooby Doo) chegou na mesa das meninas. Ele
era amigo da hippie e de seu irmão músico. Conversou um pouquinho com elas e
logo saiu. Samanta não conseguiu ouvir muito bem o que ele havia conversado.
Uma delas disse que Salsicha estava convidando para
fumar um, fora do bar. Elas recusaram, mas Samanta pensou que não seria uma má
ideia. Pensou mais uma vez e resolveu procurar Salsicha no bar. Logo se
encontraram e foram acender o baseado.
Salsicha achou melhor fumar em seu carro, para não “esparrar”.
Samanta sentiu um frio na barriga e pensou: ‘No carro dele? Será que ele dará
em cima de mim? O baseado é dele, se eu desse seria até uma forma de
agradecimento. Ele é até bonitinho. Fumo, dou, fumo, fico legal e vou para casa
dormir bem. Melhor dá no carro logo. Vai que ele decide ir a um motel’.
Samanta odiava motéis. Era muito impessoal, ficava
difícil entrar no clima. Quantas pessoas haviam gozado no chão do quarto, na
cama, no box do banheiro, no copo do frigobar... MEU DEUS!
Acendem o baseado e começam a fumar. Ele parece
viajar muito, parece não estar interessado em sexo, ou pior, nela. Às vezes,
ele fala mais próximo do rosto de Samanta. Na quarta vez que isso acontece, ela
decide beijá-lo. Os dois transaram em seguida.
Para Samanta, foi “legal” e um alívio, pois não
havia demorado muito e ela podia ir para casa agora. Dormiu como um anjo. Nem
se preocupou muito com a camisinha, ou com a falta dela. Ninguém tinha o
preservativo lá na hora e ela não quis interromper o lance. No dia seguinte,
passaria em uma farmácia e pediria uma pílula do dia seguinte.
Quase um mês depois... Isso mesmo. Samanta descobriu
que estava grávida. Conversou primeiramente com as amigas, depois com seus
pais. Salsicha, coitado, seguia com seus baseados. Samanta nem pensou em contar
para ele ou com sua ajuda. Em um primeiro momento, ela pensou em abortar. Seu
emprego, o mestrado na Sorbonne.
Um colega da amiga hippie conhecia um pouco o
submundo e poderia conseguir, sem problemas, algum comprimido abortivo. Porém,
uma semana após descobrir a gravidez, ela decidiu ter o Salsichinha.
Salsichinha veio ao mundo cercado do amor das amigas
de Samanta e de seus pais. Ao contrário de Salsicha, que havia dado uma boa
noite de sono para Samanta, Salsichinha não a deixava dormir. Chorava a noite
inteira.
A bolsa na Sorbonne saiu. Samanta decidiu fazer o
mestrado por insistência de seus pais, que cuidariam de Salsichinha. Ela era
filha única e seu filho era mais que o neto para os avós.
Ela se formou, voltou e conseguiu um ótimo emprego.
Salsichinha cresceu, hoje tem 11 anos, anda de skate e ouve rock. Daqui a
alguns anos ele estará fumando um baseado com sua mãe, que depois de umas três
bolas irá dormir pesado. Afinal, filho de Salsicha, Salsichinha é. Não vai
negar o gene.
Quando está todo mundo reunido, Salsichinha, Samanta
e as amigas, todos cantam, em ritmo de Carnaval: SasáSasá Sasáh Sasáááhhh,
SasáSasá Sasáh Sasááh!