Uma formosura de mulher. O problema, disse ela, era
que bebia muito. Mas era radiante, esbanjava bom humor e inocência, em seus
1,60m e 108 kg. 27 anos com uma molecagem de 15. Não sei se ela era sempre
daquele jeito, talvez sim. Talvez ainda fosse uma adolescente.
Estava triste, mas alegre ao mesmo tempo. Queria um
homem ou uma carona, o que viesse primeiro. Falei que eu era comprometido. Ela duvidou e perguntou por minha mulher. Vi
que seria difícil e resolvi falar que era viado. Tentava ser legal, mas eram
mais de 100 kg querendo me devorar. Tive que ser um pouco escroto até ela
resolver virar minha amiga.
Como disse antes, ela estava triste. Havia acabado
de ser largada pelo companheiro.
- Ele reclamava demais e não fazia nada. Antes
falava que eu era grudenta. Me pedia para sair com as amigas e ficar menos no
pé dele. Resolvi sair pro rocknroll. Comecei a chegar em casa 6h da manhã,
hehehe.
-
Mas você não pensou em chegar um pouco menos tarde, e realmente sair com suas
amigas? , argumentei.
-
Menos tarde? Ele vivia me chamando de gorda. Passou a não gostar mais da minha
comida, e não fazia nada em casa. Você, seja sincero, me comeria? Eu estou tão
gorda assim?
-
Bem, você não é a pessoa mais em forma da cidade, mas você é legal, espontânea,
divertida, uma boa conversa. E eu...
-
Ah é, você é viado...
-
Uhmm... Ok, isso mesmo.
Passam
alguns segundos em silêncio.
- Você bocejou, tá vendo? Todo mundo bocejou
enquanto falava comigo hoje. Por quê?
-
Bem... A iluminação desse lugar favorece. Dá um puta sono.
Depois que eu deixei claro que não daria carona para
ela e, muito menos, satisfaria seus desejos sombrios, ela se acalmou e me
escolheu pra amiga. Tudo bem, dos males o menor. Dizia que adorava rock,
sobretudo gótico. “SO-BRE-TU-DO gótico! Hahaha”. Gordos e o humor... Lembrei de
algumas bandas do estilo “sobretudo gótico”. The Cure, Siouxie And The
Banshees... Ela falava: “ISSO, MUITO BOM!”, e cantava qualquer coisa que
parecia ser em inglês.
Para cortar a cantoria bizarra, lembrei de um bar
rocknroll que era perto do lugar onde ela falou que morava. Nunca havia ido lá,
mas falei que gostaria de conhecer o local qualquer hora. Não naquele dia,
deixei claro.
“Ahh, lá não é legal. Não posso ir mais. Me
expulsaram de lá porque eu estava bêbada. Não é um bar rocknroll? Por que
discriminam bêbados?”
À medida que a conversa fluía, botijãozinho achava
mais ainda que era minha amiga e bebia minha cerveja. Ia e voltava do banheiro
com certa frequência. Quando chegava, sentava no banco ao lado do meu e
esbarrava em tudo. Parecia um terremoto. Como se não bastassem os quilos e
beber minha cerveja, ainda fazia gordice.
Mas lembrava de pedir desculpa. Uma diva. E eu respondia que estava tudo
bem, e realmente estava.
Passei a gostar de conversar com aquele minitanque
rosa, com uma alma proporcional à largura do seu corpo. Eu a adorei desde o
início. Sua origem humilde, espontaneidade e confiança em minha pessoa. Coisa
do álcool, essas duas últimas, talvez.
Começou a falar de seu trabalho. Eu conhecia seus
chefes, um casal de jornalistas. “Não gosto desse povo metido a besta. A filha
da minha patroa só come coisa láitch. Nem sou empregada dela pra ouvir isso.
Trabalho pra mãe dela”.
Pegou a cerveja e tentou se servir. Não havia mais
nada. Eram quase cinco da manhã. Ela falou que ia pegar um ônibus e se despediu
com um abraço. Depois me olhou com os olhos marejados, desejou boa sorte e foi
embora.