sábado, dezembro 17, 2016

Bloco de notas na cabeceira

- Se imagine dentro de um cilindro indestrutível, onde sentisse um grande abraço, confortavelmente protegido. Sentiria claustrofobia e desejo de voar?

- para não enlouquecer, encontre algo que te dê algum propósito na vida, e que obviamente não te enlouqueça.

 
- Um dia pensei em me matar. Então lembrei que a vida ia se encarregar disso. Desisti.

- a fé é a maior de todas as poesias


- vivenciar o belo e o divino antes de morrer deve ser algo ao alcance de todos. Como sabemos quando isso acontecer? Você irá saber. Seus olhos te entregarão.

- como fazemos perguntas para nós mesmo. Muitas são desnecessárias ou sem respostas. Devemos nos perguntar: estamos fazendo as perguntas certas?

- de ressaca, vendo as nuvens, me lembrei do mar. Deu vontade de mergulhar no céu.

terça-feira, novembro 22, 2016

Joelho

Depois de algum tempo,
A ferida deu sinal que iria cicatrizar.
Como o sol tímido,
Que ameaça escapar
De nuvens cinzas.
Mas até para cicatrizar
há dor.
Lembranças,
Lágrimas.
Fiz o tratamento exato.
Mergulhar no mar,
Mesmo sem saber se iria retornar.
Deixei nas mãos de Iemanjá.

segunda-feira, outubro 24, 2016

Antes da morte


A maioria das pessoas não tem a chance de reparar os erros antes de qualquer grande sentença, seja ela a prisão ou a indiferença.

Ou a autopunição,

A ausência de perdão,

A completa negação.

Sem chance antes do esquecimento.

Resta a cada um saber se perdoar,
Antes de qualquer perdão.

Após tanto esperar uma segunda chance, se entenda.

Se resolva,
Se perdoe.

Antes da morte.

terça-feira, junho 28, 2016

Ciclo vicioso

Sou péssimo em promessas que me privam do amor, do prazer e das lembranças. Minha consciência me destrói por isso.

Surge a ressaca moral. Tento sobreviver e esquecer. Mas a tarefa nunca é cumprida de forma satisfatória. Acabo repetindo o ciclo: amar de forma cega, errada e ingênua (como se existisse o oposto) e me embriagar na tentativa de esquecer.

Mas a embriaguez só fortalece as memórias que eram para ser esquecidas. No dia seguinte, tudo se renova. Inicialmente com um gosto amargo, sinal de tristeza ou apenas do fígado sendo castigado. Inicialmente com um certo esquecimento da noite anterior.

Noite anterior que vai ficando clara, simultaneamente ao sol que se levanta. E as lembranças vêm à tona, juntamente com as promessas de um dia esquecer a noite anterior, os sentimentos. E tentar viver de forma diferente, "digna e de amor próprio", diriam alguns.

Mas não consigo, simplesmente. E sigo alimentando o que poderia ser um câncer. Me acostumo e acabo gostando desse sofrimento preparado com redução de embriaguez.

Enquanto escrevo, um cão que parece ser filhote chora lá fora. Alguns diriam que sou eu tentando falar com você. Pode ser. Foda-se.

quinta-feira, abril 28, 2016

Para meu amigo (Za moy drug)

É meu amigo,
Você teve que ir.
Eu tive que ficar,
Ou melhor,
Ninguém teve nada.
Foi opção de quem
Achava que não tinha nada.
Mas que no fim tinha o principal,
Vida, coragem e colhões.
Acho que tive quando joguei tudo para o alto. Vendi o carro e fui viajar.
Voltei sem um puto, feliz e na merda. Mas ainda vivo e cheio de coragem. Quando eu achei que fosse embarcar contigo, surgiu o emprego e resolvi ficar.
Ahh, o emprego, o dinheiro, ou talvez, ainda que, amor. Fiquei. Um dia jogo tudo para o alto e vou viver na praia, igual a ti. Que nenhuma decepção será suficiente para nos tirar a coragem e vontade de viver.



terça-feira, março 01, 2016

terça-feira, fevereiro 23, 2016

Gosto

estava cansado de não sentir o gosto das coisas.
uma linda comida em minha frente.
sabia que não iria sentir o gosto.
sinusite.
resolvi bater minha cabeça conta a parede.
para liberar secreções e sentir novamente.
o gosto das coisas.
resolveu, em parte.
acordei com o gosto de sangue.

sexta-feira, fevereiro 12, 2016

Guerra civil

Invente um novo idioma,
Fale nesse novo idioma para si.
Preste atenção em cada consoante, vogal.

Invente um novo país,
Este país seria você.
Suas células, sua mente,
Seriam seu povo.

Você cresce!

Seus parentes seriam repúblicas.
Autônomas. 
Seus eus, semi-autônomas.
Você é uma federação.

Seus amigos seriam aliados.
Não como a otan, bricks, mercosul.
Seriam apenas aliados.

Aliados que podem te ajudar, 
Em caso de uma guerra civil em seu país.

Depressão,
Angústia,
Raiva,
Ódio,
Solidão!

Ingredientes de uma guerra civil, 
Não?

Tudo nada

Pare, Por apenas alguns minutos Pare! Procure o silêncio, Feche os olhos, Prenda a respiração. Se esvazie! Sinta o nada, Sinta o vazio, Sinta Deus. Veja a escuridão! Volte a respirar lentamente, Ouça sua respiração, Seu coração batendo. Seus pelos se arrepiarem. Os sons voltam lentamente, A vida que você conhece. Tussa! Agora sinta o arrepio, Aperte o play no cérebro, Do filme da sua vida. Volte ao silêncio. Feche os olhos, Prenda a respiração. Se esvazie! Sinta o nada, Sinta o vazio, Sinta Deus. Durma! Acordar ou não será apenas consequência.

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Fragmentos

Diante da miséria, não pense macro e nem em mudar o mundo com ideais. Diante da miséria, faça o que tiver que fazer. Seja humano.

***

"Aqui morrer realmente é uma continuação da vida. As pessoas se acostumam a morrer", Sebastião Salgado, em depoimento no documentário 'O Sal da Terra', trecho sobre seu trabalho na Etiópia nos anos 1980.

Salgado explica que segundo a tradição copta (cristão etíope), o corpo deve chegar limpo perante a Deus. "Todos devem ser lavados, apesar da falta de água. Com a morte de cada pessoa, morre um pedaço de todos". Lembrei-me de quando vi pela primeira vez um patente morto, no caso minha avó. Perguntei para o encarregado do velório se era preciso lavar o corpo.

***
A vida pode ser longa como uma girafa, graciosa como o pavão e mutável como o camaleão. Mas também pode ser um elefante, desproporcional, pesada e cinza.

***
Cada trago no conhaque lembrava uma desilusão. Cada trago no cigarro, uma contravenção amorosa.

***
Lembrança e morte são certezas. Incerteza é angústia ou excitação. E tudo isso se chama vida.

***

Depois de tudo, posso olhar para mim e dizer: eu sou real, eu existo.

quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Tempo perdido

A voz de todos que foram me diz que eu devo seguir, voar, ser feliz. Eles estarão me vendo de perto, me guiando. Todos que foram e todos que ainda ficaram, mas que foram de certa forma. Todos eles, quando pensam em mim, pensam em coisas boas. Não deveria ser diferente. Alguns me encontraram na hora errada. Eu ainda era uma criança rebelde, e eles tiveram muita paciência comigo. Eu poderia ter sido melhor com todo mundo, mas ainda era uma criança rebelde, perdida e revoltosa. Foi tudo programado para acontecer assim? Todo o sofrimento, dor, desperdício de tempo? Melhor pensar que tudo não é por acaso. Tudo tem sua razão de ser. Mas e se tivesse sido de outra forma? Essa pergunta, e poder torná-la realidade, como em uma máquina do tempo, valeria mais do que qualquer loteria e dinheiro do mundo.  E se eu tivesse tomado outro caminho? E o que falaremos de nossas vidas daqui a vinte ou trinta anos? Arrependeremos, teremos saudades? Acho que essas são as únicas certezas. Saudade e arrependimento. Nunca nos daremos por satisfeito. Restará-nos a saudade de algo que nunca tivemos. E o desejo de inventar uma máquina de viagem no tempo. Tempo que nunca mais voltará. Tempo perdido. 

Espírito de Carnaval

Sempre esperamos,
O ônibus,
O trem,
Dias melhores.
Que nunca vêm.

Um bom emprego,
A pessoa perfeita,
A viagem perfeita,
Qualquer coisa perfeita.

Sempre esperamos
Mais humanidade,
Menos indiferença,
Mais amor,
Menos violência.

Sempre esperamos,
Ser valorizados,
Não ignorados.
Ao menos lembrados,
Como não fracassados.

Sempre esperamos
Não ser invisíveis.
Ter voz,
Sorrir e chorar.
Chorar de alegria,
Gozar e amar.

Esperamos demais,
Nada aconteceu.
Godot não apareceu,
O brilho se esvaneceu,
O dia se escureceu.

Da quarta nem a cinza sobrou,
Não teve ninguém para se chamar de amor,
O tamborim, em vão, cansou,
E mudo ficou.

A tristeza,
O amor,
De muito tempo ficar,
Criou asas e voou.
Mas antes de partir
Deixou um bilhete,
Dizendo que volta no próximo Carnaval.

terça-feira, fevereiro 02, 2016

about spirits

spirits. what a stupid name for alcohol. 
give name for those devils: cognac, bourbon, 
vodka, rakija, tequila, gin, run, whiskey. 
spirit is what you get after dealing with these demons in bottle. 
or even what you can lose

terça-feira, janeiro 26, 2016

Longe

Longe do longe, Ponte distante Para atravessar. Caminhos longos, Estrada sem fim, Sem ter a certeza Do que alcançar. Nada mais restará A não ser histórias, Apenas.

sábado, janeiro 09, 2016

Rôlê na Rural

Eu gosto destes aplicativos de transporte. Você pede um carro e vem o número da placa, o que me dá várias ideias de milhares no jogo do bicho. Parei de dirigir há um tempo, e desde que uso esses aplicativos, há uns dois anos, já ganhei no bicho três vezes, quantias não tão relevantes. Mas ganhei, é o que importa.

Mas antes de chamar o carro pelo aplicativo do celular, eu estava nessa Rural maluca, com gente maluca e que parecia o filme da Família Buscapé. Estavam todos loucos, bêbados, fumando maconha e fomos pegar um cara no aeroporto que estava muito sóbrio, coitado. Íamos fazendo muito barulho pelo trajeto, acionando uma buzina que parecia um pato rouco. Não usávamos cintos de segurança e o motorista fechava todos os outros carros, praguejava e acionava sua buzina pato rouco.

Os malucos da Rural eram pai, filho e tio. Eu fui convidado pelo pai, que estava muito emocionado com a visita do filho. Pela primeira vez eles se encontravam naquela cidade onde o pai morava há quase três anos.

O ano só estava começando e o clima de confraternização ainda estava no ar. Inclusive as ressacas, que eram muito bem rebatidas com doses de vodka e cervejas geladas, além da comida mexicana feita pelo filho do meu amigo.

Depois das conversas em grupo sobre as festas de fim de ano, todos participaram de um único papo: armas. Muitos calibres, nomes de armas, histórias de assaltos e como cada um conseguiu reagir. Achei inicialmente que alguns da mesa fossem policiais, mas não. Pareciam ser pessoas que gostavam de armas e falavam que adorariam matar criminosos. Eu gosto de armas, mas nunca tive uma e nunca reagi a assalto, na verdade nunca fui assaltado. Geralmente ficava amigo de assaltantes ou assaltantes em potencial e nunca precisei de uma arma, realmente. Mas gosto de falar sobre armas e o assunto fluiu.

O tio estava mais para um redneck amante de armas, motos, jipes, e o sobrinho só compartilhava o gosto pela pólvora, motos e acumulação de experiências, mas estava longe do discurso sanguinário de uma senhora, por exemplo, que repetia sem parar que gostaria muito de matar algum bandido, que bandido bom era bandido morto, que carregava arma no carro, na bolsa, no sutiã, na vagina, sei lá aonde.

Achei por bem mudar de assunto e perguntei para o tio sobre a Rural estacionada do lado de fora da casa. Tio e sobrinho haviam viajado uns mil e quinhentos quilômetros neste carro dos anos 60, que estava muito conservado. A missão deles era desmontar uma grande árvore de natal que havia sido instalada em um shopping da cidade, e de quebra o sobrinho visitaria o pai, meu amigo.

O sóbrio, que ajudaria na desmontagem da árvore, havia acabado de chegar no aeroporto. Fui então fazer esse passeio maluco na Rural, com pai, filho e tio. O carro em ziguezague, a buzina pato rouco, o baseado. Tio e sobrinho disputando o som... Um queria ouvir Creedence, o outro reggae ou rap. Um cinquentão, o outro com seus vinte anos.

Parecia ser uma missão impossível chegar ao aeroporto, um trajeto de dez quilômetros, mais ou menos. Facilmente achamos o sóbrio, quer dizer, ele nos achou. Era impossível não achar aquele carro dos anos 60 com quatro malucos dentro.

O clima de loucura continuou no trajeto de volta, exceto pelo recém-chegado que ficou sem entender o motivo de tudo aquilo, afinal a missão era desmontar a merda de uma árvore de natal e ele viajara apenas para isso.

Chegamos na casa temporária dos malucos da Rural e, em solidariedade, decidimos embebedar o sóbrio. Ficar no meio de bêbados estando sóbrio é um castigo cruel. Depois de algumas cervas, eles lembraram da árvore de natal e decidiram vê-lá. Lá, descobriram que só poderiam desmontá-la no dia seguinte, o que não foi uma má ideia, já que estavam todos bêbados.


Voltaram e decidimos prolongar a bebedeira em um bar, que no fim pareceu ser uma ideia ruim, já que estava fechando e a música era uma porcaria. Ficamos pouco tempo, nos despedimos e eu chamei um carro pelo aplicativo do celular. Gravei o número da placa novamente para jogar amanhã.