Uma reunião de contos, crônicas e afins. Os nomes dos personagens são fictícios. As notas, nem sempre.
terça-feira, janeiro 26, 2016
Longe
Longe do longe,
Ponte distante
Para atravessar.
Caminhos longos,
Estrada sem fim,
Sem ter a certeza
Do que alcançar.
Nada mais restará
A não ser histórias,
Apenas.
sábado, janeiro 09, 2016
Rôlê na Rural
Eu gosto destes aplicativos de transporte. Você pede um
carro e vem o número da placa, o que me dá várias ideias de milhares no jogo do
bicho. Parei de dirigir há um tempo, e desde que uso esses aplicativos, há uns
dois anos, já ganhei no bicho três vezes, quantias não tão relevantes. Mas
ganhei, é o que importa.
Mas antes de chamar o carro pelo aplicativo do celular, eu
estava nessa Rural maluca, com gente maluca e que parecia o filme da Família
Buscapé. Estavam todos loucos, bêbados, fumando maconha e fomos pegar um cara
no aeroporto que estava muito sóbrio, coitado. Íamos fazendo muito barulho pelo
trajeto, acionando uma buzina que parecia um pato rouco. Não usávamos cintos de
segurança e o motorista fechava todos os outros carros, praguejava e acionava
sua buzina pato rouco.
Os malucos da Rural eram pai, filho e tio. Eu fui convidado
pelo pai, que estava muito emocionado com a visita do filho. Pela primeira vez eles
se encontravam naquela cidade onde o pai morava há quase três anos.
O ano só estava começando e o clima de confraternização
ainda estava no ar. Inclusive as ressacas, que eram muito bem rebatidas com
doses de vodka e cervejas geladas, além da comida mexicana feita pelo filho do
meu amigo.
Depois das conversas em grupo sobre as festas de fim de ano,
todos participaram de um único papo: armas. Muitos calibres, nomes de armas,
histórias de assaltos e como cada um conseguiu reagir. Achei inicialmente que
alguns da mesa fossem policiais, mas não. Pareciam ser pessoas que gostavam de
armas e falavam que adorariam matar criminosos. Eu gosto de armas, mas nunca
tive uma e nunca reagi a assalto, na verdade nunca fui assaltado. Geralmente
ficava amigo de assaltantes ou assaltantes em potencial e nunca precisei de uma
arma, realmente. Mas gosto de falar sobre armas e o assunto fluiu.
O tio estava mais para um redneck amante de armas, motos,
jipes, e o sobrinho só compartilhava o gosto pela pólvora, motos e acumulação
de experiências, mas estava longe do discurso sanguinário de uma senhora, por
exemplo, que repetia sem parar que gostaria muito de matar algum bandido, que
bandido bom era bandido morto, que carregava arma no carro, na bolsa, no sutiã,
na vagina, sei lá aonde.
Achei por bem mudar de assunto e perguntei para o tio sobre
a Rural estacionada do lado de fora da casa. Tio e sobrinho haviam viajado uns
mil e quinhentos quilômetros neste carro dos anos 60, que estava muito
conservado. A missão deles era desmontar uma grande árvore de natal que havia
sido instalada em um shopping da cidade, e de quebra o sobrinho visitaria o
pai, meu amigo.
O sóbrio, que ajudaria na desmontagem da árvore, havia
acabado de chegar no aeroporto. Fui então fazer esse passeio maluco na Rural,
com pai, filho e tio. O carro em ziguezague, a buzina pato rouco, o baseado.
Tio e sobrinho disputando o som... Um queria ouvir Creedence, o outro reggae ou
rap. Um cinquentão, o outro com seus vinte anos.
Parecia ser uma missão impossível chegar ao aeroporto, um
trajeto de dez quilômetros, mais ou menos. Facilmente achamos o sóbrio, quer
dizer, ele nos achou. Era impossível não achar aquele carro dos anos 60 com
quatro malucos dentro.
O clima de loucura continuou no trajeto de volta, exceto
pelo recém-chegado que ficou sem entender o motivo de tudo aquilo, afinal a
missão era desmontar a merda de uma árvore de natal e ele viajara apenas para
isso.
Chegamos na casa temporária dos malucos da Rural e, em
solidariedade, decidimos embebedar o sóbrio. Ficar no meio de bêbados estando
sóbrio é um castigo cruel. Depois de algumas cervas, eles lembraram da árvore
de natal e decidiram vê-lá. Lá, descobriram que só poderiam desmontá-la no dia
seguinte, o que não foi uma má ideia, já que estavam todos bêbados.
Voltaram e decidimos prolongar a bebedeira em um bar, que no
fim pareceu ser uma ideia ruim, já que estava fechando e a música era uma
porcaria. Ficamos pouco tempo, nos despedimos e eu chamei um carro pelo
aplicativo do celular. Gravei o número da placa novamente para jogar amanhã.
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