terça-feira, julho 15, 2008

Big city story

São inúmeras as opções de refeição em uma cidade grande. Todas elas com uma pitada de desconfiança. O cozinheiro, o garçom, as pessoas ao seu redor. Todos podem te engolir. Ou seria paranóia?

Depois de alguns tragos, a melhor opção é pedir o prato mais gorduroso, o mais “pedreiro”, sentar no balcão e fazer cara de mal para todos.

Não esperava que minha encenação fosse quebrada por uma cega. Ela estava sentada sozinha em uma mesa. Esperando algum garçom anotar seu pedido.

Enquanto eu me distraía com as ilustrações de pratos pregadas na parede, ela decidiu sentar no balcão, na esperança que alguém finalmente a atendesse.

Veio cambaleando, de óculos escuros e batendo sua bengala de cega. Acertou minha perna e em seguida pediu desculpa. Sentou dois bancos após o meu, pediu uma taça de vinho e o cinzeiro.

Tomou o primeiro gole e acendeu um cigarro. Tudo simetricamente. Sabia onde estava a taça, onde estava o cinzeiro. Eu já até suspeitava de sua cegueira e a evitava olhar diretamente.

Acho que ela sabia de tudo que se passava ao seu redor. Podia sentir o cheiro do meu sanduíche e de minha jaqueta impregnada a cigarro. Distinguia todas as conversas, talvez.

Pensei em tentar uma conversa. Mas talvez fosse isso o que ela esperava para então me fisgar e aplicar algum golpe. Coisas de cidade grande. Inúmeras refeições, personagens, vítimas...

Ou talvez ela sempre freqüentasse aquele local em busca de companhia, ou fosse apenas uma cega alcoólatra. Creio que foi melhor não ter perguntado nada.