sábado, maio 12, 2012

Meu rei


Meu rei é um cara esperto. Fala com todo mundo com um sorriso que você reconhece à distância, principalmente no escuro. Fiquei bróder dele quando eu não aceitei a pegadinha.
Ele lava o carro sem o dono pedir. Todos estranham quando vão embora e se deparam com o carro limpo. Daí aparece aquele negão gente boa, com um sorrizão, falando que decidiu fazer um agrado. O dono do carro não pensa duas vezes. Arranca uma nota de cinco ou de dez e dá para o Meu rei.
Ao invés de dar dinheiro, lhe paguei um sapo. “Eu te pedi para lavar meu carro? Você acha que eu vou te dar quanto, dez reais? Tentava demonstrar raiva, mas na verdade estava surpreso pela atitude dele.
Outros flanelinhas passaram a utilizar a mesma tática. Meu rei entrou em ação e repetiu meu discurso para eles: “O dono do carro pediu para você lavar o carro?”. Achei que Meu rei havia aprendido algo comigo e fiquei satisfeito. Mas o cara me superava.
Fiquei sabendo pelo segurança do bar que Meu rei havia criado uma firma do lava-jato picareta. Ele pedia para os outros flanelinhas, que na verdade eram drogados em busca de dinheiro para uma pedra de crack, lavarem todos os carros. Meu rei entrava no bar, falava com os donos dos carros e pegava o dinheiro primeiro, sem os outros flanelinhas saberem. Terceiriza a mão-de-obra, mas não paga nada por ela. A China é peixe pequeno perto do Meu rei.
Em pouco tempo, ele passou a ser o dono da área e impor regras entre os moradores de rua, prostitutas e outros flanelinhas: não aceita tráfico e nem roubo no local, afinal não quer chamar atenção da polícia e nem perder sua fonte de renda. Hoje, Meu rei só me pede cigarros. Nunca mais lavou meu carro novamente.