Meu rei é um cara esperto. Fala com todo mundo com
um sorriso que você reconhece à distância, principalmente no escuro. Fiquei
bróder dele quando eu não aceitei a pegadinha.
Ele lava o carro sem o dono pedir. Todos estranham
quando vão embora e se deparam com o carro limpo. Daí aparece aquele negão
gente boa, com um sorrizão, falando que decidiu fazer um agrado. O dono do
carro não pensa duas vezes. Arranca uma nota de cinco ou de dez e dá para o Meu
rei.
Ao invés de dar dinheiro, lhe paguei um sapo. “Eu te
pedi para lavar meu carro? Você acha que eu vou te dar quanto, dez reais?
Tentava demonstrar raiva, mas na verdade estava surpreso pela atitude dele.
Outros flanelinhas passaram a utilizar a mesma
tática. Meu rei entrou em ação e repetiu meu discurso para eles: “O dono do
carro pediu para você lavar o carro?”. Achei que Meu rei havia aprendido algo
comigo e fiquei satisfeito. Mas o cara me superava.
Fiquei sabendo pelo segurança do bar que Meu rei
havia criado uma firma do lava-jato picareta. Ele pedia para os outros
flanelinhas, que na verdade eram drogados em busca de dinheiro para uma pedra
de crack, lavarem todos os carros. Meu rei entrava no bar, falava com os donos
dos carros e pegava o dinheiro primeiro, sem os outros flanelinhas saberem.
Terceiriza a mão-de-obra, mas não paga nada por ela. A China é peixe pequeno
perto do Meu rei.
Em pouco tempo, ele passou a ser o dono da área e
impor regras entre os moradores de rua, prostitutas e outros flanelinhas: não
aceita tráfico e nem roubo no local, afinal não quer chamar atenção da polícia
e nem perder sua fonte de renda. Hoje, Meu rei só me pede cigarros. Nunca mais
lavou meu carro novamente.