segunda-feira, setembro 25, 2006

Conversa de amigas


Duas moças sentadas em um café no centro da cidade.

Morena: Pois é, a Mônica e a Valéria estão juntas. Você acredita?
Ruiva: Nossa, mas a Valéria não tinha transado com o noivo dela?
Morena: Tinha (pausa para mastigar um pedaço de bolo, eu acho que era bolo), mas foi tudo armação. Ela dormiu com o Mateus para forçar a separação dos dois. E deu certo. A Mônica terminou o noivado e ficou sem falar com a Valéria um tempão. Mas aí, a Valéria finalmente conseguiu convencê-la que havia feito tudo aquilo por amor, que sempre foi apaixonada por ela e que não suportava ver os dois juntos.
Ruiva: Mas a Mônica nunca tinha percebido nada antes? Realmente a Valéria sempre foi estranha.
Morena: Pois é, sempre com aquele papo de carência. Vivia cobrando atenção da Mônica, dizia que ela havia mudado desde que começou a namorar o Mateus, lembra?
Ruiva: Lembro sim. Agora, como é que a Mônica aceitou tudo isso, ficar com a Valéria no final?
Morena: Só pode ser macumba.
Ruiva: O Mateus já sabe que elas estão juntas?
Morena: Acho que não. Vou contar hoje à noite para ele. Vamos sair juntos.
Ruiva: Um-hum... sei.
Morena: Vou lá, consolar ele.
Ruiva: tsss.

sexta-feira, setembro 15, 2006

O caçador de parafusos


Túlio é meu vizinho. Tem 38 anos e ainda mora com a mãe. É feio e nunca teve uma mulher, mas talvez haja outros motivos para isso. Ele trabalha em uma fábrica de parafusos. Acho que gosta do que faz, gosta de parafusos. Ele coloca no bolso o primeiro parafuso que produz no dia e o leva para casa. Tem uma caixa cheia de parafusos, mas ainda acho que lhe falta um na cabeça.
Lembranças de cada dia de dez horas de trabalho estão em uma caixa. Ele diz que isso serve como um controle. Sabe quantos dias já trabalhou na fábrica só em contar aqueles malditos parafusos. Na última vez em que conversamos, ele disse já ter acumulado mais de três mil.
Toda vez que entrava em um ambiente, Túlio tentava procurar parafusos. Verificava os móveis, os eletrodomésticos. Não importava quanto tempo perdesse procurando os parafusos. Quando não conseguia caçar, ficava impaciente, suava frio e deixava o lugar.
Sempre tinha a esperança de encontrar um dos seus. E sabia fazer isso, identificar seu produto, a sua obra. Não me perguntem como ele conseguia isso. Talvez um laço entre o artista e sua obra de arte. Túlio sabia que não era o único responsável pela produção de um parafuso, mas considerava sua função a mais importante de todas. Ele colocava os frisos para aquele pedaço de metal girar e se tornar um parafuso. “Sem isso, nada feito. Não temos parafuso”, dizia orgulhoso.
Um dia, enquanto tomava um café na padaria, ele reparou um carrinho de brinquedo na mão de um menino. Túlio já havia revistado todas as mesas à procura de seus parafusos. Não havia encontrado nada. Parou de tomar o café imediatamente. Levantou-se e foi até o menino.

Sem olhar para a criança, Túlio elogiou o carrinho de brinquedo e pediu para dar uma olhada. Todos os pequeninos parafusos eram da fábrica onde trabalhava, melhor, eram filhos de Túlio. Finalmente ele os encontrara. Ficou eufórico, os olhos lacrimejaram e um sorriso maníaco escapou. Foi quando ele finalmente percebeu o garotinho e sua mãe.
Era uma bela e jovem mãe. Por um momento, nosso caçador de parafusos ficou apaixonado. “Você é louco? Saia já daqui”, disse a jovem e então se afastou, levando o filho dela e os parafusos de Túlio. Desde que ele me contou essa história, nunca mais o vi. Espero que não tenha parado de caçar seus parafusos.