Personagens
que tornam o boteco uma espécie de hospício sociável (às vezes não) e democrático.
O figura da vez é um pouco diferente. Ele é velho, manco, catador de latinha e
bróder de todos os habitantes daquele enclave etílico. Usa uma bengala e sua
feição varia entre o ranzinza e o brincalhão, com ressalvas. Sempre responde a
brincadeiras dos garçons com golpes de bengala.
Quando chega
no bar, o rapaz do balcão serve de pronto um vinho chileno, um bom, por sinal,
em copo plástico. Os três primeiros goles servem para degustar. Acende um
cigarro de palha e vira num só trago o resto da bebida.
Os garçons
começam a lhe importunar, fazer cócegas, derrubar as sacolas cheias de latinhas.
Quando ele ameaça com a bengala, os garçons saem correndo. Todos no bar dão
risadas com aquela cena. Uma versão nossa de Dr. House, mais criança do que
sarcástico.
Sempre paga
pelo seu vinho, não gostava de favores. Seres como ele são cercados de boatos e
causos. É comum aparecer histórias sobre o velho. Que ele era rico, que havia
sido escravo, que fora abandonado pela família, que sucumbiu à loucura após um
chifre...
Sei que
quando ele chega no boteco, todos sorriem por alguns minutos. Talvez seja seu
único momento de felicidade no dia. Até sorrir ele consegue, mesmo sendo
sacaneado (no bom sentido), catando latinhas, velho, manco e ranzinza. Parece ganhar o dia com
as brincadeiras dos garçons. E todos no recinto ficam felizes enquanto seu
sorriso dura.