Sarah era uma
aplicada aluna de equitação. Após as aulas, sempre ia com o professor até o
estábulo para guardar o cavalo. Ela gostava de cuidar pessoalmente do andaluz -
presente de seu pai, que batizou o animal de Campeón.
Após as aulas,
Campeón sempre era lavado e escovado por Sarah. Com os seres humanos, a menina
não costumava ter tanta afinidade. Ela era um pouco calada, falava apenas o
essencial. O irmão, único companheiro de brincadeiras, há alguns anos não fazia
mais parte de seu dia a dia. Sarah estava com 17 e ele com 14, idade em que
geralmente os meninos deixam de brincar com as irmãs para jogar futebol ou para
acompanhar seus pais em caçadas pelo mato. Inicialmente ela sentiu a ausência
do irmão. Mas logo ele foi substituído por Campeón e as aulas de equitação.
Ela cursava o último
ano do segundo grau. Às vezes, deixava de ir ao colégio para passar algumas
horas com o cavalo. Em uma sexta-feira chuvosa, ao entrar no estábulo para
pegar ração, o caseiro Emanuel conta que viu uma cena estranha.
- Eles estavam fazendo relação.
- Como? – perguntei.
- Ah, muito estranho. Enquanto ela
segurava o troço do cavalo, metia a mão entre as pernas.
Preferi não ouvir mais detalhes. O caseiro diz ter
ficado com a cena na cabeça durante um bom tempo. Acabou que decidiu contar ao
patrão. “E como eu ia falar pra ele uma coisa dessas? Rapaz, pensei muito. No
fim eu disse que ela estava mimando demais o cavalo e perdendo aula no colégio
por conta disso”.
Os pais de Sarah decidiram
vender Campeón o mais rápido possível. Não queriam que a filha se prejudicasse
nos estudos. No dia em que soube da notícia, Sarah entrou em desespero. Mas ela
não fez muita questão de demonstrar isso. Apenas se trancou no quatro. De
madrugada, a menina matou os pais com tiros de espingarda. Assustado, o irmão
de Sarah correu até o local. Levou um tiro no peito e acabou como os pais.
Emanuel encontrou
Sarah pela manhã. Ela estava sentada em uma poltrona na sala, com a espingarda
ainda na mão. Ele subiu as escadas e encontrou o corpo do menino estirado no
corredor. “Meu pais também, no quarto”, disse Sarah, lá de baixo. O caseiro
saiu correndo até a cidade, em busca de ajuda. Voltou duas horas depois, com os
policiais. Sarah ainda estava imóvel, na poltrona da sala.
Ela foi internada em
uma casa de recuperação psicológica para jovens. Emanuel deixou o povoado para
ser porteiro em meu prédio. Antes de subir para o apartamento, decidi fumar um
cigarro e acabei puxando conversa com ele. O papo chegou nesta história. Sarah
completa 21 anos amanhã e estará em liberdade.
- E agora, será que ela irá procurar
por Campeón? – perguntei, meio que em tom de brincadeira.
- Se for, irá perder tempo. Eu o matei
antes de vir para cá.
Um comentário:
foda!
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