domingo, agosto 25, 2024

quinta-feira, agosto 22, 2024

Modern family

- Silvanei, como estão as coisas desde nossa última sessão?

- Melhor impossível, doutor. Tenho uma família, mulher e filho. Não tenho dívidas, não pago aluguel e não nos falta comida.

- Silvanei, você teve uma recaída de que forma? Como conseguiu drogas? 

- Como assim, doutor?

- Silvanei, você está preso. Divide uma cela especial com um anão e uma mulher trans.

- Doutor, aqui tenho uma mulher moderna, do século 21. Não pago nada pelo anal e nem pelo exame de próstata. O Junin é pequeno, mas não chora, nem precisa de fralda. Nunca conheceu o pai biológico, mas me respeita e me trata como um. Qual homem de 60 anos, solteiro, sem emprego, sem aposentadoria e sem família teria isso?

- Hahaha... É uma piada? Até parece que está tentando me convencer a viver com vocês.

- Passamos da fase da terapia familiar. Acho que você deve ter mais oportunidades lá do lado de fora, doutor.

terça-feira, agosto 20, 2024

Isentão

O problema foi quando dividiram amor e ódio entre esquerda e direita. Deus e Diabo. Um alimenta o outro, ambos destrói muitos.

Mas no fim é sobre isso. Somos todos Deus e Diabo... 

....

...

..

.

- Oxi. Não, péra. Tá errado. Vai orar, homi!

- Orar pra quê? Eles sabem tudo o que eu penso.

- Eles quem, doido?

- Oxi, tu que sabe.

- Atá.

- Mas não conta pra ninguém.

segunda-feira, abril 01, 2024

Ser pai custa caro

A recente paternidade me aprontou mais uma. Desde o nascimento da Martina, também conhecida como Minduim e Tininha, sair de casa se resume a idas ao pediatra ou ao trajeto trabalho-casa.

No primeiro dia de visita dos avós paternos de Tininha, peguei o carro do meu velho e sai sozinho. Nada de churrasco ou barzinho com os amigos.

Fui a um lugar onde minha ausência não seria tema de julgamento, claro.

Onde? O supermercado. E não foi para comprar cigarros.

Nunca imaginei que fazer compras seria um lazer, e sim necessidade. Em teoria, era uma breve saída para comprar três ou quatro itens de higiene. Ainda assim, insisti em ir de carro, com a desculpa de que no mercado mais longe seria tudo mais barato.

Fazia tempo que não dirigia o carro do meu pai, e pensar nisso me deixou 25 anos mais jovem. Fui aproveitando cada acelerada e sentindo o ar condicionado na cara, dirigindo a 30km/h para aproveitar mais o momento.

Entrei no atacadão e fiquei hipnotizado. Andar empurrando um carrinho, ver vários produtos e comparar preços nunca foi tão prazeroso. 

Para deixar o momento ainda mais tesudo, abri o freezer de cerveja e peguei uma longneck cara, acho que belga, e fui mandando pra dentro.

Creio que passei por todas as sessões e prateleiras do mercado, tirando fotos dos preços atrativos e enviando as imagens a amigos e familiares, me sentindo um mensageiro de boas-novas.

Passamos a dar valor às pequenas coisas quando deixamos de vivenciá-las, já diria qualquer filósofo das redes sociais.

O problema foi que as pequenas coisas se tornaram grandes e caras. Dos quatro itens que eu tinha de comprar, acabei enchendo um carrinho, sob o pretexto de que os preços estavam bons.

Tive de passar dois cartões para pagar a conta. Nunca fui tão generoso no mercado. Realmente, a paternidade custa caro.